Ano passado, quando tinha acabado de voltar do périplo pelo Uruguai, com direito a uma esticada em Buenos Aires, eu fiz um apanhado geral das minhas experiências com shows de tango – entre hollywoodianos, tradicionais, inovadores e teatrais, eu achava que tinha provado de tudo um pouco…
Esse ano descobri que estava redondamente enganada… É verdade que eu tinha provado várias pitadas de tango, e que sempre procurava locais que fossem bem diferentes uns dos outros, para não ter aquela impressão de estar vendo coisas repetidas. Nunca tive a pretensão da “autenticidade” – êta palavrinha perigosa! A mim sempre bastou um espetáculo de bom gosto, artístico e bem produzido. Mas foi só quando conheci o Bar Sur que eu descobri o quanto um “show” de tango pode ser intimista, poderoso e absolutamente divertido, tudo ao mesmo tempo. Eu disse “show”? Não, o Bar Sur é uma festa!!!
A dica não é minha, nem é nova. Quem eu ouvi falar no Bar Sur pela primeira vez foi o Riq, desde os primórdios do Viaje na Viagem. Sempre que alguém perguntava onde ir ver tango em Buenos Aires, ele disparava: “Bar Sur!”
O Bar Sur é a casa de tango mais antiga de Buenos Aires. Fica em San Telmo, na esquina da Balcarce com a Estados Unidos, um recanto muito pitoresco que nos transporta imediatamente ao passado. Mas quem vai ao Bar Sur esperando assistir a mais um show de tango se surpreende, porque nada lá lembra os shows que se pode ver em outras casas… No Bar Sur não há, por exemplo, o básico: um palco! Os músicos – três apenas, perfeitos – ocupam o fundo do salão.
As mesas ficam dispostas nas laterais – uma fileira ocupa a parede e a outra a frente do bar. Os bailarinos dançam no espaço (exíguo, sim, mas suficiente) entre as mesas:
E o resultado dessa receita para o desastre… é a mais absoluta perfeição!!! Inacreditável…
O espetáculo é ininterrupto, ao longo de todo o período de funcionamento da casa, ou seja, das 20:00 às 02:00 h, todos os dias. Não sei se é necessário, mas eu acho aconselhável fazer reservas, pois o salão não comporta mais do que umas 10 mesas – o que significa que, em dias de lotação esgotada, o público deve consistir em umas 20 pessoas ou pouco mais… No dia em que fomos, o público era pequeno mas eclético: eu e a minha tia Célia; duas moças de São Paulo, a Solange e a Cristina; um casal inglês; e uma família espanhola, de Málaga – com uma menininha de uns 8 anos de idade que se divertiu a valer, cantando e dançando até altas horas!
Ah, sim, é importante dizer que o espetáculo é participativo. Isso significa que não faltam oportunidades para o respeitável público revelar seus talentos artísticos (ou nem tanto…) As cantoras oferecem o microfone sempre que a música é mais conhecida, e mesmo os mais tímidos acabam entrando na brincadeira.
Sempre que um número de dança termina, os bailarinos (que são, todos, também professores de dança) convidam as pessoas para dançar. Eu achei uma delícia: cantei, dancei, depois cantei de novo, dancei de novo, já estava até achando que iam me oferecer um emprego… 😉
Foi a noite de tango mais divertida da minha vida. Foi também uma das mais caras – o show em si está na média de preço, 180 pesos. Mas o item mais barato do cardápio, uma garrafinha de água mineral, custa 20 pesos. Uma garrafa de vinho simplesinho, tipo um Los Alamos, sai a 90 pesos. É caríssimo, sem dúvida. Mas quem vai por acaso reclama? De jeito nenhum!!! Digo e repito: é o preço da exclusividade. Não vejo outro modo de sustentar um show de tanta qualidade com um público tão limitado a não ser com preços altos. E digo mais: eu pagaria tudo de novo, valeu cada centavo! 😀
Lá mesmo eu decidi: não quero mais experimentar outro show. Provavelmente vou virar freqüentadora assídua do Bar Sur, vou voltar todas as vezes em que for a Buenos Aires. E agora que tomei o gostinho, umas aulinhas de tango viriam bem a calhar… (Mais um item pra minha listinha de coisas a fazer quando terminar o doutorado!!!)
Para ler um pouco mais sobre o Bar Sur, clique aqui:
– A Turista Acidental: a Emília também se divertiu muitíssimo passando uma noite no Bar Sur;
– Vem Comigo: o Breno B. foi outro que aprovou!
E para ler um pouco mais sobre tango no Idas & Vindas, clique aqui.
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